segunda-feira, 12 de setembro de 2005

Em nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo...

Lembro-me de meus tempos de moleque, quando estudava num colégio de padres. Todos os dias, antes da aula, o sistema de alto-falantes recitava um enfadonho "Pai-Nosso", que era precedido pelo "Sinal da Cruz" católico.

Sempre feito de forma tão automática, aquele gesto que vinha antes da oração (ou chateação) diária nunca aparentou ter nenhum grande significado para mim (nem para qualquer um dos outros alunos, creio). Era algo recitado quase que roboticamente: "...enomedopaidofiodospritossanto, amén".

Mas então, o que cargas d'água significa - ou simboliza - a Santíssima Trindade? É isso que tentarei explicar logo abaixo.

Atenção: para os críticos de plantão, fica o aviso de que os ensaios aqui postados são a minha visão sobre os temas abordados, não necessariamente tratando acerca das "verdades" proferidas por qualquer grupo ou religião.

A Santíssima Trindade - ou Pai, Filho e Espírito Santo - é definida pela Igreja Católica como as três facetas de Deus, não como entidades separadas, mas sim como uma unidade. Esta definição é perfeitamente correta, se levarmos em conta a sua natureza.

Para entender melhor essa questão (da natureza), cada uma das facetas deve ser observada isoladamente, para ao final ser possível compor e compreender o que realmente significam.

O Pai, Senhor Todo-Poderoso, ou Deus, ou ainda aquela figura barbuda e cabeluda (que mais parece um hippie sessentão sentado numa nuvem), é o responsável pelo fazer acontecer.

Não está escrito na Bíblia cristã "...bate e te será aberto..."? Pois é. O "velhão" aí de cima é o cara que atende a porta. Em termos "misticóides", o Pai é o Universo, ou seja: o juiz do campo onde jogamos o jogo da vida. Se conhecemos as regras e jogamos direito, a coisa flui, o "Universo conspira ao nosso favor" (caramba, odeio essa frase!).

Na verdade, o Pai é o responsável pelo tal do karma: ele garante que colhamos aquilo que plantamos, e nada mais (vide o meu post anterior). Este fluxo de ida-e-volta também é conhecido como Arcos de Retorno.

O Espírito Santo é provavelmente a figura mais mal-interpretada do panteão cristão. Para alguns é um boost divino que faz as pessoas falarem em línguas e operar milagres, para outros é uma pomba branca, e por aí vai. Já ouvi diversas definições acerca do Espírito Santo, mas nenhuma me soou convincente. O que mais chega perto daquilo que considero "correto" é a visão do ES como sendo um elo entre o Homem e Deus.

Atuando como um mensageiro ou porta-voz, o Espírito Santo é o responsável por levar ao Pai os nossos anseios. Estes anseios podem ser em "pensamentos, palavras e ações", e estão diretamente ligados ao conceito cristão de pecado.

Quando "pecamos" não estamos fazendo contra Deus, mas sim contra nós mesmos. Ou seja, uma ação errada resulta numa reação indesejada. Ficou complicado? Bem, a coisa é simples: lei de ação e reação - pura física. Como falei anteriormente, Deus apenas garante que colhamos o que plantamos.

Uma oração, um desentendimento com o vizinho, um desejo íntimo - tudo envolve o Espírito Santo. Claro que toda reação depende da intensidade e do direcionamento da ação - assim, não é porque você acha gostosa a namorada do seu amigo, que será punido. Mas, continue tarando a boazuda, espalhe entre seus conhecidos a sua opinião, ou mesmo deixe ela perceber - e aí a sua reação virá, com certeza, na forma de um punho cerrado.

Este é o princípio mais utilizado pelos inúmeros PhD's que escrevem inúmeros livros de auto-ajuda, dizendo que "você é aquilo que idealiza", e ensinam seus desesperados leitores a acordar pela manhã, olhar-se no espelho e, com a cara toda amarrotada, dizer "sou um vencedor".

Lembremos que tudo isso são idealizações, por enquanto tudo acontece num estágio mental e mais parece um plano mirabolante para tentar entender os desígnios de Deus.

Mas, aí é que está: faça o que diz o Mr. PhD em seu livro de auto-ajuda, ou mesmo se preferir, todo dia antes de deitar-se, ore fervorosamente e peça ao Pai que lhe conceda as graças que tanto deseja - e o resultado certamente virá. Besteira? Bem, eis a receita de sucesso de vendas no campo da auto-ajuda; eis o segredo do sucesso do evangelho da prosperidade. Ambos os lados utilizam o mesmo princípio que eu, como bom ocultista que sou, chamo de mágicko.

É nesta fase de resultados que temos o Filho, ou Verbo feito carne. O Filho é o próprio resultado feito matéria; é o nosso desejo realizado.

Obviamente, a coisa não é tão simples assim. Na grande maioria das vezes, o Filho não é aquilo que idealizamos. Mas, por quê?

Existe um fator - que geralmente é omitido pelo Mr. PhD ou desconhecido do líder religioso - que gosto de chamar de direcionamento da Vontade. Este fator até chega a ser abordado por profissionais da auto-ajuda como atitude mental incorreta, ou ainda pelo outro lado como a vontade de um deus que "escreve certo por linhas tortas", embora ainda assim esta abordagem seja extremamente vaga.

Todos nós carregamos uma certa bagagem kármica diária (sei que devo ter cuidado em empregar esta palavra e, aqui, ela significa apenas aquilo que está atrelado ao nosso corpo físico nesta vida). São as atitudes que tomamos no dia-a-dia, e vão ficando guardadas numa poupança cósmica.

Quando tomamos a mesma atitude continuamente, isso gera uma soma (egrégora) que se transforma num Filho - muitas vezes, um Filho que não foi desejado! (Lembre-se de que, para o Universo, seu desejo é uma ordem...). Ainda abordarei em novos posts estes tópicos como egrégoras e direcionamento da Vontade, mas não vou mais me estender neste.

Frater Amduscias

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